Eleito três vezes o melhor do mundo, tetracampeão paralímpico é apaixonado por animais e sonha em ter um instituto os cachorros serão ferramentas de apoio para diversas deficiências Tetracampeão paralímpico treina cachorro em Alemão
Dono de quatro medalhas de ouro em Jogos Paralímpicos e eleito melhor do mundo três vezes com a Seleção Brasileira de Futebol de Cegos, Ricardinho tem outra paixão tão grande quanto o esporte: os cachorros.
Ricardinho, da seleção brasileira de futebol de cegos, também é adestrador de cães
Erica Hideshima
O atleta, que nasceu na cidade gaúcha de Osório, passa boa parte do tempo acompanhado de um cachorro. No momento, a melhor amiga é Kaila, uma pastora belga malinois, de quatro anos.
- Paralelo à minha profissão de jogador eu tenho um hobby que é treinar cães, adoro conviver com esses animais. Apesar de serem irracionais, eles entregam muita coisa pra nós. Tu nunca vai encontrar falsidade nesse bicho, ciúme, inveja, egoísmo. Ele é exatamente o que demonstra e é só a gente procurar conhecimento para entender a cabeça do cachorro - conta.
Ricardinho perdeu a visão quando ainda era criança, por conta de um deslocamento de retina. Mora sozinho, e juntou o amor pelos cachorros à utilidade desses animais também como companhia de guarda.
-Eu sempre sonhei em ter um cachorro grande, tinha predileção pela raça pastor alemão. Eu queria um cachorro que poderia ser me parceiro para toda vida, que eu pudesse passear, curtir momentos de lazer também e também um animal que pudesse me proteger. E assim eu fui em busca de conhecimento - lembrou.
Depois de muito pesquisar e achar pouca leitura em braile sobre o tema, Ricardinho achou um canal na internet que trata especificamente sobre o tema de adestramento de cães, pertencente a Jairo Teixeira. O interesse em comum se transformou em amizade, e Jairo se surpreendeu quando conheceu o atleta.
- Olha, falaram que é um rapaz que joga futebol, é deficiente visual, mas eu imaginei que o cara jogando a bolinha (de leve), segurando uma bengala. Foi difícil entender que o cara dribla, chuta e o goleiro enxerga e sofre o gol - conta Jairo.
Ricardinho, da seleção brasileira de futebol de cegos, também é adestrador de cães
Erica Hideshima
O hobby virou coisa séria. Ricardinho aprendeu o passo a passo e hoje treina seus cachorros.
-Não tem como existir uma relação de laços bem apertados se eu não souber me comunicar com o outro indivíduo. Então fui atrás de conhecimento porque eu estava querendo treinar meus cães. Coloquei na minha rotina, além dos treinos do futebol, um tempo para estudar. Às vezes eu almoçava e no tempo para descansar eu ficava lá estudando, e passei a entender o cão. Se eles mudarem o jeito que estão caminhando do meu lado - percepções muito assim sutis - eu sei que alguma coisa mudou. A posição da orelha dela, quando eu toco, sei se ela está alerta ou não. São coisas que a pessoa que enxerga nem presta atenção porque ela vai olhar no entorno, como alguém suspeito ou um obstáculo - explicou Ricardinho.
O jogador sonha em ter uma ong onde os cachorros poderão ajudar pessoas com todo tipo de deficiência, não apenas visual.
-Eu quero mostrar para as pessoas quão positiva pode ser a convivência com o cachorro. Quero treinar cães para assistências mais diversas. Seja um cachorro pra ajudar um cego, um cadeirante, ou até mesmo uma outra questão: estão surgindo muitos casos de autismo no Brasil. Sei o quanto um cachorro pode melhorar a vida de uma pessoa - concluiu.